Artigo de opinião

Publicado em Edição 14

Pandemia

Nova visão de bem-estar na empresa

Embora a Covid‑19 constitua um desafio sem precedentes à saúde dos trabalhadores, os empregadores podem responder construtivamente dentro e fora da empresa. Mais do que nunca, o bem‑estar é preocupação central numa relação de sucesso empregador‑colaborador.

O bem‑estar psicológico já vinha sendo uma preocupação devido a evoluções nas práticas de emprego, das consequências duradouras da crise tecnológica e da invasão da tecnologia.

Por causa da pandemia, a saúde mental assume ainda maior importância, agora que a precariedade do trabalho, a volatilidade do rendimento, os riscos para a saúde, e os deveres de cuidado e ajustamento ao trabalho virtual impõem uma tensão prolongada.

Manter ao mesmo tempo a saúde física, social e financeira da força laboral multicultural, multigeracional e remota de hoje dificulta o papel do empregador. As empresas compreendem a necessidade de soluções integrais mas, com as fronteiras entre a vida pessoal e profissional a esbaterem‑se, têm dificuldade em definir o bem‑estar, quanto mais assegurá‑lo a todos os trabalhadores, onde quer que se encontrem.

Assegurar que o escritório, fábrica ou, cada vez mais, a casa sejam um lugar saudável e eficaz para o trabalho é uma prioridade estratégica para as funções empresariais, como os RH, a gestão de risco, saúde e segurança no trabalho, finanças e, em última análise, o conselho de administração. Até que ponto podem ir as organizações na sua responsabilidade pelo bem‑estar dos trabalhadores, particularmente a saúde mental? Há uma linha ténue entre o dever de cuidado e a intrusão, que varia de acordo com a idade, género, país, cultura e regime jurídico.

Mesmo conceitos básicos como “horário de trabalho” já não são rígidos mas, certamente, manter o rendimento é um pré-requisito para o bem‑estar individual global, não apenas para a saúde financeira. Embora no passado o papel dos empregadores na oferta de aconselhamento financeiro tivesse sido muito limitado, essa atitude começou a mudar antes do alastrar da Covid‑19.

O nosso inquérito junto de empregadores na Austrália, Brasil, Alemanha, Espanha, Suíça e Reino Unido identificou a necessidade de uma maior literacia financeira dos trabalhadores, com uma classificação média de 7/10, e descobriu que mais de dois terços acredita que investir na educação financeira beneficiaria os seus trabalhadores.

Também descobrimos que cerca de 60% das empresas viu aumentar a procura de aconselhamento sobre o bem‑estar financeiro nos últimos três a cinco anos, ao passo que 68% dos empregadores planeia aumentar tanto o âmbito como a frequência dos seus programas de literacia financeira.

A desenvoltura financeira tornar-se-á cada vez mais importante por várias razões: das reformas que diminuem as prestações das pensões de velhice por parte do Estado à economia de trabalho esporádico que leva a carreira mais fragmentadas e, portanto impede uma acumulação linear de poupanças do rendimento do trabalho.

Os contratos de trabalho não padronizados são usados como ferramenta por causa do seu impacto favorável nos custos e flexibilidade das empresas. Contudo, é frequente ficarem aquém do esperado quando é preciso mobilizar e motivar o empenho em toda a organização, tal como numa crise.

A Covid‑19 demonstrou a vulnerabilidade dos modelos que permitem liberdade e controlo sobre onde, quando e como trabalhar, ao passo que as formas tradicionais de emprego, com a sua estabilidade e benefícios dados pelos empregadores, recuperaram algum do seu brilho.

A transição súbita para o trabalho em casa intensificou‑se e ampliou a fadiga dos trabalhos que, podendo ser realizados remotamente, podem contar com um universo muito maior de candidatos, já que os trabalhadores deixam de estar presos a um dado local. Este novo tipo de globalização pode traduzir‑se numa depressão das remunerações numa altura em que as pessoas precisam de todo o rendimento possível.

As recessões anteriores, como a crise financeira de 2008, mostram que as aptidões e dimensão da força laboral são rapidamente revisitadas quando se põe em causa a sobrevivência de uma organização. Desta vez, a tecnologia permitirá decisões ainda mais drásticas do que outras do passado.

Hoje, o stress e a incerteza abundam, especialmente entre as categorias de trabalhadores mais frágeis que só podem manter a competitividade no mercado de talento reeducando‑se e adquirindo novas competências.

À medida que os trabalhadores recorrem aos pacotes de saúde, proteção e poupanças para se tranquilizarem, os empregadores têm uma excelente oportunidade de melhorar o empenho e lealdade dos seus trabalhadores abordando estas fontes de ansiedade. Assegurar atenção equilibrada ao bem‑estar físico, mental, social e financeiro dos trabalhadores é um desafio mesmo nos melhores tempos, mas assume excecional urgência e importância nos dias de hoje.

O futuro do trabalho

Este artigo inspira‑se na investigação plurianual da Zurich em colaboração com a Smith School da Universidade de Oxford sobre proteção da força laboral. Os resultados baseiam‑se em inquéritos abrangentes a 19.000 trabalhadores em 17 países e 1200 empresas em seis grandes economias, bem como entrevistas aprofundadas com decisores de várias empresas. Aceda ao estudo completo aqui.

 

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AUTORES

Paolo Marini

Paolo Marini

Global Head of Customer & Distribution CLP - Zurich

É Global Head of Customer & Distribution na Zurich. Iniciou a sua carreira
nos seguros em 1990, na Generali, tendo assumido cargos em Itália, EUA, Hong
Kong e Bélgica e, por último, como diretor de vendas, marketing e comunicação
na rede de benefícios para colaboradores.
Em 2011, juntou‑se à Zurich para desenvolver a gestão de clientes e fortalecer a cooperação com os seguros generalistas. Em 2019, a sua função passou a incluir
responsabilidades pela distribuição.
É especialista em soluções globais de employee benefits, pensões nacionais e internacionais e proteção.
Participa com frequência em eventos do setor e é líder de opinião em temas desde a proteção dos rendimentos ao envelhecimento e demografia ou a evolução da natureza do trabalho.
É licenciado em Ciência Política pela Universidade de Trieste.