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Publicado em Edição 16

Diáspora e língua portuguesas

um potencial a explorar

O potencial económico da rede de portugueses espalhados pelo mundo e dos países da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – é, reconhecidamente, um ativo de Portugal de enorme valor e que está ainda por explorar, apesar dos avanços dos últimos anos na captação de investimento e numa estratégia de melhor articulação da chamada diplomacia económica, da qual faz parte a associação Conselho da Diáspora Portuguesa.

Estima‑se que seremos cerca de 15 milhões de portugueses, se somarmos a população de Portugal, comunidades emigrantes ou em trabalho no exterior e lusodescendentes. A variável dos portugueses no mundo é cada vez mais relevante, uma vez que Portugal enfrenta, a curto e médio prazo, um cenário de inverno demográfico e de fuga de talentos, em especial, mais jovens, que procuram melhores condições de vida e remuneração em diversas geografias.

À medida que o número de portugueses residentes no retângulo ibérico e nas ilhas atlânticas vai diminuindo, devido a uma das mais baixas taxas de natalidade da Europa, é preciso ter sempre em conta os portugueses e seus descendentes que vivem e trabalham noutros países, como tem sido reconhecido nos discursos oficiais dos principais órgãos de soberania lusitanos e por livros e estudos diversos publicados pelos media.

A questão numérica sobre “quantos somos” pode ser ainda mais relevante, se adicionarmos a variável dos falantes de língua portuguesa em países como Brasil, Angola, Moçambique e demais Estados membros da CPLP. Nesse caso, em vez de 10 a 15 milhões de cidadãos de Portugal e Diáspora, o número dos cidadãos que em português se exprime será superior a 290 milhões, o que coloca a língua portuguesa entre as dez mais faladas em todo o mundo, de acordo com os dados oficiais de 2021.

Tal como acontece numa empresa ou organização com ativos e receita, o mais importante é saber como se pode potenciar e valorizar esse património ou essa riqueza porque de pouco serve apresentarmos estatísticas demográficas e indicadores como PIB, PNB ou exportações, se não existir uma estratégia para tirar partido do valor gerado pelo talento e pelo número de falantes de português, criando maiores sinergias entre Estados, comunidades, empresas e redes de network que em português se entendem. Estamos, portanto, perante o velho tema do potencial e do resultado, o que se aplica nos mercados, nas empresas, nos gestores e colaboradores ou nos jogadores de alta competição.

O potencial económico da rede de portugueses espalhados pelo mundo e dos países da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – é, reconhecidamente, um ativo de Portugal de enorme valor e que está ainda por explorar, apesar dos avanços dos últimos anos.

Como contributo para a reflexão sobre o potencial e valor real da Diáspora e da língua portuguesas, gostaria de sublinhar conceitos e palavras como sinergia, rede, autoconfiança e coopetição. Na atual colaboração com a Direção do Conselho da Diáspora Portuguesa e nas anteriores missões profissionais e cívicas como assessor do Presidente da República para Empresas e Inovação ou como editor de Economia da SIC / SIC Notícias, autor de diversos livros ou docente, acredito que só com inovação, diferenciação, escala, união e em rede colaborativa é possível tornar produtos, bens ou serviços atrativos e viáveis, o que é aplicável a nações ou povos que partilham, por exemplo, uma língua comum.

Um dos fatores críticos de sucesso estará no mindset de alinhamento ou atitude de remar na mesma direção, com maior confiança e foco, e da nossa capacidade em, finalmente, sermos capazes de concretizar oportunidades que continuamos a perder devido à balcanização das ofertas dos produtos endógenos e diferenciadores de Portugal, excessivo individualismo e estigma que continua a recair sobre quem tem sucesso e cria valor fora no país das Descobertas.
Entraves que continuam a limitar o pleno aproveitamento do potencial do papel de Portugal e da sua Diáspora no mundo.

‘Coopetição’ é outro conceito sobre o qual deveria haver uma reflexão nacional sobre o passado pós‑quinhentista e o caminho que temos pela frente e queremos (ou não) percorrer neste desafiante século XXI. Ora, coopetição é a junção de conceitos que devem ser mais valorizados: cooperação e competição. Devemos cooperar mais e atuar em rede, aproveitando melhor sinergias e economias de escala.
Em simultâneo, todos nós competimos (com outrem ou connosco próprios, no limite) para sermos ainda melhores, pois há sempre concorrentes. Na prática, se para ganhar um concurso num mercado externo ou para enfrentar um ataque de um concorrente estrangeiro, tivermos de cooperar com os concorrentes mais diretos, porque essa é a fórmula para o êxito, então devemos ter estratégias de planeamento e execução em coopetição.

Temos inúmeros exemplos na internacionalização de empresas portuguesas de cooperação entre concorrentes, sobretudo no mercado externo. Isso acontece na indústria hoteleira e do turismo, na construção e obras públicas e na oferta integrada de serviços, desde a tecnologia, consultoria, projetos de engenharia ou arquitetura.
Por exemplo, os grupos Pestana e Vila Galé levam para os mercados externos fornecedores e produtores de vinho, azeite, têxtil, cerâmica e diversos serviços nos seus processos de internacionalização. A nível global, e sem outras considerações teóricas sobre o conceito da Coopetição, há diversos exemplos da virtude da cooperação genuína entre concorrentes para se ganhar um concurso e apoiar uma fileira de fornecedores e clientes, como os empresários e gestores que trabalham e vivem em Espanha bem sabem.

Este conceito da coopetição é válido para vários setores económicos nacionais, se a mentalidade reinante for diferente; se a nossa estratégia para aumento da competitividade (setorial e nacional) passar pela valorização do que realmente nos diferencia – e que nos dá motivo de orgulho; se houver engenho e arte para, unidos, percebermos que temos um enorme ativo que é preciso saber explorar com inteligência e determinação, pois possuímos recursos como população, territórios, talentos, bons projetos, tradição e inovação... deixando‑nos, de uma vez por todas, de “complexos de Calimero” porque somos bons e altamente competitivos em diversas áreas, como é reconhecido a nível mundial.

Na verdade, em Portugal – o território vizinho de Espanha e não tanto o Portugal “espiritual” que está espalhado pelo mundo, como tem sublinhado o Presidente da República através do chamado soft power da sua magistratura de influência – só nos falta maior ambição e não termos qualquer receio em crescer quando nos comparamos com mercados europeus, americanos ou asiáticos. É isso também o que move o Conselho da Diáspora Portuguesa na confiança e esperança para 2023 e para o futuro de Portugal.

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AUTORES

Luís Ferreira Lopes

Luís Ferreira Lopes

- Conselho da Diáspora Portuguesa