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Publicado em Edição 17
Um cidadão do Mundo
Melómano, leitor compulsivo, homem de cultura, José Manuel Fonseca é um gestor com caraterísticas pessoais invulgares, um humanista. Natural de Matosinhos, cresceu num meio familiar ligado à pesca, embora muito influenciado por um tio/padrinho – um grande melómano e uma grande figura do meio intelectual português. Obviamente “muito a par das tendências” vividas fora de um Portugal rural, atrasado, em regime de partido único e ditadura – e talvez por isso cedo percebeu que vivia “num país isolado do mundo, numa ilha a preto e branco”.
Aos 14 anos, em 1971, teve a sua primeira ‘aventura’ internacional, numa viagem pela Europa (França, Bélgica e Países Baixos) com um colega de turma do liceu, mas muitas outras viagens o viriam a marcar – não era comum viajar-se na altura, muito menos, tão jovem.
“À chegada a Paris parecia que estávamos a aterrar em Marte! Deslumbrámo-nos com as raparigas de minissaia, descobrimos a proibida Coca-Cola, que nos soube a liberdade, os quiosques cheios de jornais e revistas de diferentes temáticas, olhámos para o L’Humanité quase com receio de estarmos a ser espiados por um polícia português. Havia rapazes de cabelos compridos e hambúrgueres à venda na rua. Foi também lá que visitei o primeiro grande supermercado – o Prisunic! Tudo a cores, cheio de vida.”
Mais tarde, já na universidade, regressou todos os verões a França, para fazer as vindimas em Bordéus, experiência também pouco comum para os jovens portugueses da época, e da qual guarda recordações memoráveis.
Ainda hoje viaja frequentemente, sobretudo em trabalho, aproveitando, por vezes, para reviver as experiências que teve na juventude – e partilhar algumas com os filhos, incluindo a inesquecível ida Amesterdão em 71, onde dormiu as quatro noites debaixo de uma ponte no famoso Vondelpark, no meio da comunidade hippie daquela época.
“Estas viagens deram-me o sentido da relatividade, de que o mundo e as diferentes culturas são bem diversas e que conhecer outras pessoas, outras realidades, nos torna bastante mais ricos e humildes”, afirma o CEO do Grupo MDS.
Economista de formação, iniciou a carreira na Comissão de Coordenação da Região Norte, liderada na altura pelo Eng.º Valente de Oliveira que muito o marcou, seguindo-se a banca – no então líder de mercado Banco Português do Atlântico –, onde liderou o primeiro projeto de bancassurance em Portugal. Fundou e dirigiu uma das primeiras Gestoras de Fundos de Pensões vindo a ser mais tarde Presidente da Real Seguros.
Também criou – e liderou durante mais de 10 anos – a APOGERIS (Associação Portuguesa de Gestão de Riscos e Seguros), foi vice-presidente da FERMA (Federação Europeia de Associações de Gestores de Risco) e membro da Administração do CIAB (Associação Americana de Brokers e Agentes de Seguros).
Presidiu a Casa da Música, no Porto, entre 2006 e 2014, e preside, ainda hoje, à Casa da Arquitetura em Matosinhos, cidade de cuja Câmara Municipal foi vice-presidente e vereador da Cultura. Foi ainda Presidente do Leixões Sport Clube durante 10 anos.
Na MDS, como em todas as funções que desempenhou, procurou pensar (e executar) sempre ‘fora da caixa’, e hoje orgulha-se de dirigir uma empresa feliz, aberta e uma referência de mercado. “A cultura de uma empresa é algo que se sente e que se vive. A MDS tem uma cultura de grande abertura, com um espírito de intensa colaboração e humanismo. É uma empresa open-minded, na medida em que a inovação vem de todos e não apenas de cima.”
Quando lhe perguntamos se tem ainda algum sonho que gostaria de realizar, responde com um sorriso: “O meu sonho era ser dono da minha própria livraria, daquela que há muito passeia na minha cabeça, ocupar-me dela, “cheirar” os livros, conversar e ajudar os leitores”.
Quem sabe um dia?
Snapshot
Qual é a viagem que ainda não fizeste e gostavas de fazer?
Egito, tenho de ir ao Egito. Também gostava muito de visitar o Iraque e o Irão.
Isso representa algum gosto pelo risco?
Não, tem a ver com aquilo que me formou. Cresci a admirar e a perceber a importância e beleza de civilizações como a grega, a egípcia e a mesopotâmica. Muito do que hoje somos nasceu ali.
Lês muitos livros ao mesmo tempo, ou um de cada vez?
Vários ao mesmo tempo, não consigo disciplinar-me.
Qual é o livro da tua vida?
Muitos, mas diria a obra do Eugénio [de Andrade], os sonetos do Camões, o [Constantine P.] Cavafy. É muito difícil, não quero trair ninguém. Mais recentemente um livro marcou-me muito: a Estrada Leste Oeste de Philippe Sands.
Só gostas de música clássica ou tens gostos mais ecléticos?
A minha cultura musical é essencialmente clássica, descobri o jazz mais recentemente. Adoro Chico Buarque e os Beatles, creio que conheço todas as suas músicas mais ou menos de cor. Os Beatles fizeram a minha juventude, ao lado de Mozart, de Mahler, Bernstein, etc e alguns grandes grupos que admiro muito como os Pink Floyd, os Led Zeppelin e os Queen.
Qual é o risco que não aceitarias correr?
Trocar o Benfica!